domingo, 30 de setembro de 2012

SOMOS TODOS PAIS ADOTIVOS


No mundo dos adultos existe a diferenciação entre filhos adotivos e filhos biológicos. No mundo das crianças, não: todo pai é adotivo. Isso porque a criança imediatamente adota seu pai sem a consciência da legitimidade deste. Em relação à mãe acontece o mesmo, mas logo a questão do elo carnal é resolvida com a famosa frase: você saiu da barriga da mamãe! Já o pai, privado de falar sobre a procedência escrotal da criança, se apresenta apenas como o pai. E essa apresentação, tão básica quanto linda, é suficiente para que o filho o aceite e o ame. Só bem mais tarde ele saberá da real ligação genética entre ambos. Aliás, isso prova que nascemos sábios e simples, mas morremos tolos e complicados.


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O PROBLEMA É DOS ADULTOS


Ouvia pelo rádio a fala de um especialista em educação. Dizia ele, citando alguém, que as crianças devem ser protegidas do mundo. Sua fala era mansa e cheia de propriedade. A certa altura, mencionando o beijo gay mostrado no horário político eleitoral de Santa Catarina, ressaltou o impacto negativo que isso teve, por exemplo, em um menino de oito anos de idade. Essa abordagem só me reforçou a certeza de que o problema do preconceito é mesmo dos adultos. Um dia, não me lembro quando nem onde, falei para meus dois filhos que também há amor entre pessoas do mesmo sexo. Não foi preciso protegê-los desse fato, apresentado a eles como natural. É tola a crença de que a sexualidade pode ser definida ou influenciada pelo que se vê na rua ou na televisão. Seria muito fácil e simples se fosse assim. A coisa, porém, é muito mais complexa. Crianças precisam ser protegidas dos falsos moralistas.

domingo, 9 de setembro de 2012

POR QUE FALAMOS TANTO?


Falamos muito, sobre tudo. Vida, pais, filhos, trabalho. Mas não falamos só o que pensamos. Falamos mais o que gostaríamos de pensar e menos o que de fato pensamos. Falamos muito, sobre tudo. Deus, amor, emoções, morte. Falamos por impulso, para tentar calar a voz interior que teima em dizer o contrário. Uma voz que duvida de quase tudo o que dizemos. Na verdade, falamos para nós mesmos e não para os outros. Falamos para tentar nos convencer da nossa versão. Por isso repetimos tanto o que falamos. Mas também falamos muito apenas porque precisamos falar, para conter ebulições internas, revoluções mentais, realidades virtuais. Falamos muito para que faça sentido, para que não seja em vão. Falamos muito porque temos medo da calma triste do silêncio.

domingo, 2 de setembro de 2012

SER PAI, HOJE


Perfeito o diagnóstico de Contardo Calligaris ao dizer que a paternidade hoje gera mais angústia e frustração do que no passado por dois motivos: um, porque criar filhos não fazia parte de um plano de felicidade e outro, porque as crianças não eram o centro da vida dos adultos. Mesmo assim, não penso que ser pai hoje seja mais difícil. O ser humano não muda em sua essência, o que muda é o seu jeito de viver. Criar filhos é sempre uma aposta da natureza; não há garantia de nada. Talvez a sabedoria que se atribua aos pais de outrora fosse, na verdade, um misto de omissão e ignorância. Isso porque pais não sabiam onde filhos estavam na maior parte do tempo e eram alheios às questões emocionais. De fato, as crianças eram antes mais bem educadas, principalmente em casa... Hoje vive-se o inverso: crianças mal educadas, principalmente em casa, e pais excessivamente interessados em suas aflições. Ação demais acaba sendo tão prejudicial quanto ação de menos. Mas sempre a geração seguinte leva a vantagem de ter mais conhecimento que a outra. E isso faz diferença, porque conhecer é ter a possibilidade de escolha, apesar de toda frustração e angústia que isso possa trazer.