quarta-feira, 30 de novembro de 2016

TRAGÉDIAS, GRANDES E PEQUENAS

Toda morte é uma tragédia, especialmente para quem morre. Assim, em tese, a quantidade de mortos que um só evento provoca é sobretudo um dado estatístico. O que muda é a forma com a qual percebemos essas mortes, pois a comoção vem da proximidade física ou afetiva que temos com as vítimas, a ponto de nos fazer imaginar todas as suas angústias e sofrimentos. Porém a comoção vem mais forte quando algo em nós também morre com os mortos. Por isso algumas tragédias nos tocam mais do que outras. 



sexta-feira, 18 de novembro de 2016

INDIGNAÇÃO PONTUAL

A vida não é justa. Poderia escrever apenas isso, e o texto já estaria completo, mas direi mais. Você pode sentir-se protegido por qualquer entidade espiritual, porém nada o deixará imune aos infortúnios dessa vida. Não, você não está protegido: é preciso muito mais do que fé. Nesse momento muitos sofrem e não porque lhes falte fé. Sofrem porque a vida é assim mesmo, injusta, embora não devesse ser. Até Jesus Cristo, segundo consta, não foi poupado das injustiças desse mundo. Portanto soa infantil indignar-se pontualmente com o mundo (ou com Deus) quando as coisas não acontecem como esperamos.







sexta-feira, 28 de outubro de 2016

MILAGRES DO HOMEM

A ciência é um processo maravilhoso. Cada conhecimento, cada conquista e, até mesmo, cada fracasso é entregue nas mãos da geração seguinte. Assim, para mim, milagre não é aquilo que acontece sem explicação, mas o que acontece com a devida explicação. A remissão espontânea de um câncer, por exemplo, poderá ser atribuída ao poder divino, mas isso não tem nada de milagroso, quer seja porque é inexplicável, quer seja porque Deus, segundo dizem, tudo pode. Agora, curar um câncer com tratamento medicamentoso e/ou cirúrgico me soa realmente como um fato milagroso. Afinal, o homem só pode contar com a ciência e, nas suas limitações, com a própria sorte.


  

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

SELVA SOBRE RODAS

As mortes no trânsito são particularmente estúpidas. Primeiro, porque a maioria delas poderia ser evitada. Segundo, porque suas vítimas estavam apenas prosaicamente se locomovendo. Compara-se o trânsito com guerras, mas é pior. Nas guerras, embora também estúpidas, ao menos há sempre uma motivação ideológica. No trânsito, não; há somente estupidez. Além de educação, falta o emprego de uma fiscalização eletrônica muito mais intensa e, principalmente, de punições implacáveis aos infratores. Os números estatísticos de mortos e feridos, ainda que absurdos, são sempre percebidos com uma passividade indecente, especialmente por aqueles que ainda não perderam ninguém nessa selva sobre rodas.





segunda-feira, 17 de outubro de 2016

ONÍVORO SELETIVO

Considerando que os outros primatas, basicamente vegetarianos, também se alimentam de proteína animal e, ainda, que temos sido onívoros há milhares de anos, passei de vegetariano estrito a onívoro seletivo. Na prática isso muda pouca coisa, apenas que tornei a consumir peixes e ovos. Outros dois aspectos, porém, foram determinantes para minha decisão: um, que ideologias unem apenas os iguais, e outro, que devemos ser humildes diante da complexidade da fisiologia humana. 




quinta-feira, 22 de setembro de 2016

VEGETARIANO POR NATUREZA

Não consumo mais proteína de origem animal: sou agora vegetariano estrito. Isso porque é o poder de escolha que nos permite ser quem queremos ser. Sim, é claro que há um conteúdo ético nessa minha decisão, porém essencialmente escolhi o vegetarianismo porque mais adequado à nossa anatomia e fisiologia. Num ambiente natural, sem métodos artificiais (não temos garras nem presas), a nossa dieta seria composta basicamente de frutas, plantas e sementes, como a dos outros grandes primatas. Pensando bem, talvez a ordem seja a inversa daquela que disse no início. Nesse caso, não escolhi ser o que quero ser; apenas escolhi ser o que já sou por natureza.



quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O PASSADO NÃO É NADA

A contagem cronológica do tempo causa-nos sempre espanto e incredulidade. Isso porque só temos a percepção real do tempo presente. Assim, o passado, que é uma projeção de recordações distorcidas e entrecortadas por impiedosos lapsos de esquecimento, não consola nem remedia as necessidades que temos hoje. Ao contrário, lembranças só atiçam dores e saudades que nos permitimos ou queremos sentir. É claro que todos desejamos uma vida longa, repleta de realizações e de recordações, pois essa nos é a melhor opção (na verdade, a única). Mas eis o que quero dizer: o passado não é nada, porque ele não existe mais. Assim é a vida. Resta-nos, sempre e repetidamente, o dia de hoje.





segunda-feira, 22 de agosto de 2016

ADEUS, JUCA!

A gente perde muitos amigos. Na maioria das vezes são amizades que esfriam porque não fazem mais sentido e, por isso, acabam restritas a um tempo específico, deixando apenas boas lembranças. Esse tipo de perda é triste, mas fácil de digerir porque decorre da dinâmica da vida. Agora é doloroso perder amigos para a morte, especialmente quando a amizade jamais perdeu o seu sentido. Há alguns dias morreu o meu querido amigo José Zokner, o Juca. Difícil descrever alguém tão especial em poucas linhas: direi apenas que, além de culto e inteligente, ele era bom e gentil. Nossa diferença de idade enfim acabou cobrando o seu alto preço. Você fará muita falta, Mano Véio. 




terça-feira, 28 de junho de 2016

POSTERIDADE

Assim como a estupidez, a vaidade também é infinita. Prova disso é o desejo que se tem de ficar para a posteridade, seja de forma pomposa, através de ruas/lugares/estátuas, seja de forma singela, através da lembrança alheia. Isso tudo é bobagem, porque aos mortos nada mais é útil, e, triste constatação, apenas duas gerações nos separam do mais completo esquecimento. Como não sou dado a conselhos, limito-me a dizer: em vida, a vaidade é tola; na morte, além de tola, ela é inócua.




POSTERIDADE

Assim como a estupidez, a vaidade também é infinita. Prova disso é o desejo que se tem de entrar para a posteridade, seja de forma pomposa, através de ruas/lugares/estátuas, seja de forma singela, através da lembrança alheia. Isso tudo é bobagem, porque aos mortos nada mais é útil e, triste constatação, apenas duas gerações nos separam do mais completo esquecimento. Como não sou dado a conselhos, limito-me a dizer: em vida, a vaidade é tola; na morte, além do tola, ela é inócua.




quarta-feira, 22 de junho de 2016

PERSONA MASCULINA

Eis a regra: sempre que três ou mais homens se reunirem, todos eles serão tomados por uma mesma "persona masculina". Ato contínuo, passarão a se portar de um modo muito semelhante, com gestos, assuntos e risadas repetitivas. Isso porque nenhum deles irá querer mostrar-se diferente do estereótipo do macho tradicional. Quem já viu um grupo masculino, terá visto todos. Talvez porque eles gostem de relaxar apenas sendo "homens". Não sei. Curiosamente, o mesmo não ocorre com as mulheres, que, parecendo não se preocupar em variar os temas discutidos, não têm medo de expor eventuais fragilidades e inseguranças. Ponto para elas.



  

domingo, 12 de junho de 2016

POLÍCIA É POLÍCIA

Em regra, a polícia não é bem vista. Isso, porém, é compreensível, porque polícia é polícia, opressora por conceito e finalidade. Sempre que um indivíduo, grupo ou multidão desafiar o estado de direito, a resposta policial deverá ser enérgica o suficiente para, sem abusos, mostrar que a lei vale para todos. Afinal, a polícia é a expressão do legítimo desejo coletivo por ordem e segurança. No mundo civilizado, é ela quem faz o serviço "sujo" em prol da coletividade e do bem comum.




quarta-feira, 25 de maio de 2016

MORTE AOS DEZOITO

"Descanse em paz", dizia a faixa na coroa de flores da entrada, mas como descansar quando a morte chega prematuramente aos dezoito? Confesso que não tive coragem de aproximar-me do caixão. Sabia que veria ali o rosto de meu filho que tem a mesma idade. Então só pude abraçar e beijar meu amigo Alvaro, pai de Alvinho, mesmo sabendo não haver consolo possível. A perda de um filho não cabe nas palavras. Resta-nos, apenas, o silêncio.




terça-feira, 10 de maio de 2016

A ERA DA RETÓRICA

Não basta botar o ovo: tem que cacarejar. Essa máxima se aplica à exposição que ganhamos com as mídias sociais. Não basta ter opinião: tem que postá-la. Errado? Não. O problema é acreditar na própria retórica, tornando inconciliáveis e intransponíveis diferenças normais e esperadas. Se é verdade que somos diferentes na maneira de ver o mundo, também o é que somos muito parecidos na forma de viver nesse mundo. É preciso compreender que nunca pensaremos todos do mesmo jeito e é bom que continuemos assim.




segunda-feira, 25 de abril de 2016

O CUSTO DA MORTE

Não há razão para existir cemitérios: nem para materialistas nem para espiritualistas. Se os primeiros creem na finitude da vida, e os segundos, na sua infinitude, não há lógica para o custo da manutenção física da memória dos que já se foram. Assim, como mortos vivem apenas na lembrança dos vivos, cemitérios só persistem por causa da eterna cobrança social de como devemos agir (até na hora da morte) e porque há um inequívoco apelo comercial. Sou contra, inclusive, a exposição constrangedora dos velórios, mas isso já é outra conversa.  




segunda-feira, 11 de abril de 2016

A DIETA DOS PRIMATAS

Geneticamente, somos quase idênticos aos macacos. Por que então insistimos em nos comparar aos carnívoros? A base alimentar dos símios, primatas como nós, é composta de frutas, vegetais, castanhas e, esporadicamente, proteína animal. Não seria lógico que tivéssemos o mesmo padrão alimentar? Carnívoros têm bocas e dentes maiores, que se prestam a matar e rasgar suas presas. Nós, em contrapartida, temos bocas e dentes pequenos, mais adequados ao consumo de frutas e vegetais. É bom lembrar que o corpo humano é um território natural, totalmente alheio às nossas preferências. Ou seja, podemos comer o que quisermos, mas o nosso corpo sempre dará as suas próprias respostas.





terça-feira, 5 de abril de 2016

SÓ JEJUM SALVA

Poderia ser Jesus, mas foi o jejum que mudou minha vida. Depois de inúmeras abordagens, creio finalmente ter encontrado o padrão de dieta alimentar que me colocou nos trilhos de uma vida saudável. Trata-se do chamado jejum intermitente, que é alimentar-se dentro de um período pequeno do dia e jejuar à base de água pelo restante (no meu caso, são 18 horas de jejum por dia). Os ganhos efetivos e inquestionáveis foram vários. O primeiro e definitivo passo, porém, é vencer a crença de que ficar sem alimento é prejudicial ao corpo humano. Justamente por isso é que paro por aqui, porque contra crenças não há argumentos.




segunda-feira, 28 de março de 2016

TRÂNSITO X SUPERMERCADO

O trânsito seria melhor se nos comportássemos como num supermercado, onde não temos a mesma pressa agressiva, a mesma falta de educação e a mesma predisposição para burlar regras. Afinal, lá ninguém corre com o seu carrinho e, se eventualmente nos esbarramos uns nos outros, ninguém xinga ou gesticula obscenamente. De quebra, ninguém encosta o carrinho na frente dos outros na fila para pedir a vez. Sim, é claro que há grosserias e falta de educação, mas a regra, ao contrário do trânsito, é a boa convivência. Talvez a falsa noção de proteção e de anonimato que temos dentro de nossos automóveis seja a razão de sermos tão antipáticos, desregrados e intolerantes.




sexta-feira, 18 de março de 2016

É BOM DISCUTIR

É clichê, eu sei, mas a gente aprende mais nas diferenças que nas semelhanças. Quando todos pensam do mesmo jeito, acaba o aprendizado. Claro, é preciso ter civilidade para que se saia ileso, moral e fisicamente, de uma discussão (até porque a falta de respeito só demonstra a fragilidade das próprias convicções). Por outro lado, discutir também cansa, havendo momentos em que não estamos dispostos a gastar tamanha energia. É uma pena, porém, que nem todos percebam que no fundo diferenças são fascinantes, justamente porque nos fazem flertar com possibilidades e experiências diversas daquelas que estamos cômoda e neuroticamente acostumados a vislumbrar.   







segunda-feira, 14 de março de 2016

O AVIÃO ESTÁ CAINDO

Não, não se trata de um texto sobre política. Quero falar sobre uma observação conhecida e engraçada (reconheço), usada para relativizar a falta de fé ateísta. Aquela que diz que o ateu deixa de ser ateu quando sabe que seu avião está caindo. De pronto, vê-se que a frase é um "tiro no pé", porque confessa que a fé está inexoravelmente atrelada ao medo da morte. Depois, valho-me do que ouvi do amigo Marcelo Alessi outro dia. Para ele, essa imagem dá a certeza em sentido contrário do que se pensa, pois, ainda que todos rezem, o avião irá cair do mesmo jeito. 




segunda-feira, 7 de março de 2016

PROFISSÃO DE FÉ

Nossas crenças nos definem. Minto. Na verdade, nossas crenças definem, primeiro, a imagem que queremos ter de nós mesmos e, depois, a imagem que queremos que os outros tenham de nós. Assim, o objeto da crença nos é sempre sagrado, porque sobre ele calcamos os alicerces de quem somos ou pensamos que somos. Por essa razão, vemos tanta relutância dos militantes da esquerda em admitir os crimes cometidos pelo partido que está no poder no Brasil. Nada obstante, quando a política é elevada à categoria de crença, ela passa a ser uma profissão de fé, o que é sempre contraproducente ao processo democrático. 




  

terça-feira, 1 de março de 2016

O TEMPO DA NEGAÇÃO

Todos sorrindo e felizes. Nas baladas, muita bebida. Na hora de dormir, muitas pílulas. Ninguém pode estar triste. Ninguém pode estar em crise. Álcool e ansiolíticos dão conta do recado. A criança vai mal na escola? Um diagnóstico e um medicamento resolvem a questão. Você está ficando velho? A rentável indústria da estética está aí à sua disposição. Mas nada de tristeza, porque você está chegando na melhor idade ou na ageless, para ser mais sofisticado. Bem-vindos ao terceiro milênio: o tempo da negação. 



terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

POBRE COISA PÚBLICA

Na teoria a coisa pública é para ser de todos; na prática, porém, é vista como uma coisa de ninguém, por isso sempre passível de habituais e indevidas apropriações individuais. Falta-nos justamente a percepção de que a coisa pública é, de fato, de todos. Nesse cenário vacilante, o nosso caráter relativizador e frouxo deita e rola, tornando o cumprimento da lei algo meramente circunstancial. Talvez a vigilância constante e implacável da coisa pública e do espaço público resultasse, ainda que forçadamente, num avanço moral, porque se depender apenas do bom senso, isso vai levar ainda muito tempo.




segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

PAPA POP

Como não gostar do Papa Francisco? Sorridente, humilde, caridoso e sensível. Soa contraditório, porém, um Papa tão simples e franciscano liderar a Igreja Católica, um verdadeiro império econômico. Ao que tudo indica, a sua escolha teve como objetivo maior estancar uma constante evasão de fieis, já que seu antecessor, o nada carismático Papa Bento XVI, não conseguiu reverter esse quadro, embora culto e inteligente. Era então preciso dar uma cara nova e simpática a uma instituição historicamente tão sisuda. O que para muitos foi providência divina, para mim foi apenas uma acertada jogada de marketing.