terça-feira, 19 de agosto de 2014

A ARTE DE NÃO DIZER

Escrever não é fácil; requer treino e paciência. Ao contrário do que se supõe, dizemos mais quando escrevemos pouco. Isso porque quando escrevemos muito acabamos por limitar o próprio conteúdo. Não o conteúdo objetivo, mas o subjetivo, muito mais importante, que é a possibilidade de identificação do leitor; quando, de uma forma ou de outra, o texto retrata suas emoções. E quanto mais espaço houver para isso tanto melhor. Mas apenas escrever pouco não basta. É preciso escrever bem, garimpar pacientemente cada palavra para que a ideia central ganhe força. É preciso também não ceder à tentação do virtuosismo, que só impressiona e satisfaz o próprio escritor. Num bom filme de suspense as cenas mais marcantes são as que sugerem algo que não vemos. Afinal não temos todos os mesmos medos, mas é certo que de algum medo todos padecemos.

Publicado na Revista da AATPR (Associação dos Advogados Trabalhistas do Paraná), 3a. Edição.








terça-feira, 5 de agosto de 2014

O MENINO E O TIGRE

O que leva um pai observar passivamente o filho destemido brincar com um tigre? Admiração, pura e simples admiração. Sim, há falta de limites nas crianças de hoje e blá-blá-blá, blá-blá-blá. Mas há mais. Pais desde sempre projetam nos filhos uma vida melhor da que têm ou tiveram. Porém ver o filho admirado nos diversos palcos da vida moderna se tornou o suprassumo da realização. O episódio do menino provocando o tigre enjaulado é sobretudo fruto desse desejo. O pai não viu o perigo, seduzido que estava pela demonstração pública de coragem que o filho proporcionava. Foi quando a realidade mostrou suas garras e seus dentes.