DURMA BEM, DARA
Naquele sábado, durante o tradicional passeio, percebendo sua fraqueza, fiz o caminho de volta com você nos braços, intuindo que aquele seria mesmo o nosso último. Depois de uma segunda-feira difícil, por cautela e zelo, você dormiu conosco no quarto, pela primeira vez na vida. Mas a terça-feira veio com uma péssima notícia: os resultados do seu exame de sangue indicavam uma irreparável falência renal. Na hora do almoço, tendo ao redor a sua família humana, apesar da dor que sentia, você comeu um pouco arroz com carne moída e até mesmo algumas das pipocas doces que tanto gostava. Naquele momento, seu olhar, mesmo cego, irradiava uma tranquilidade de pertencimento quase feliz (foto). No início da tarde, porém, veio o inevitável e anunciado fim. Antes da injeção fatal, num abraço duplo de seus pais, tentando dar-lhe algum conforto, só consegui dizer “durma bem, Dara”, como fiz em quase todas as noites dos últimos oito anos. Foi a última coisa que você ouviu antes de partir.
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