quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Controlando nada


Sou um controlador compulsivo, confesso. Desejo controlar tudo, sempre. É um inferno, que me põe num estado constante de ansiedade porque, na verdade, não controlo nada. E como isso é desgastante, ainda mais para quem não tem um deus a delegar o desejo próprio, mesquinho, de controlar tudo à sua volta. Aos que têm fé, ao menos há o alento de que alguém estaria controlando tudo, para o bem e para o mal. Mas, repito, penso que isso não passe de uma mera delegação do desejo individual por controle. Assim desconfio que todos somos visitados pela angústia da falta de controle, de um modo ou de outro. Talvez o melhor da vida seja justamente nos deixar ser levados, como num rio de corredeira, onde não há outra alternativa senão seguir seu curso. O problema é que não sabemos aonde esse rio nos levará. Então sucumbimos ao desejo de nadar contra a corrente. 















quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Atle-Tiba

Julho de 1975 me traz duas lembranças: a neve em Curitiba e o primeiro jogo entre Atlético e Coritiba que assisti ao vivo. Até então, só através das emocionantes e ilusórias transmissões do rádio. Depois vieram as finais do campeonato paranaense de 1978. Três jogos que terminaram empatados, forçando uma inesquecível disputa por pênaltis. Mas a partir de 1980, já com doze anos, passei a frequentar assiduamente esses clássicos, quase sempre na companhia de meu irmão atleticano. Detalhe: perto do estádio, seguíamos lados opostos, cada qual para sua torcida. Torcidas, aliás, que não eram tão "organizadas" a ponto de arquitetar enfrentamentos bárbaros nos terminais de ônibus. Curiosamente quando penso no Atlético não sinto raiva nem desprezo. Afinal ele é um velho conhecido e faz parte da minha vida tanto quanto meu glorioso Coritiba. O futebol, metáfora inexorável da vida, também vive e sobrevive de fatais dualidades. Assim, quanto mais forte estiver o Rubro-negro melhor, porque mais forte precisará estar o meu Alviverde. Domingo, dia 20 de fevereiro de 2011, todos os caminhos levarão ao Couto Pereira, quando mais uma página dessa história será escrita (a de n. 345) e eu lá estarei com minha mulher e meus filhos, vibrando como sempre, pois num dia singular como esse não dá para fazer ou pensar em outra coisa.










segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Mais uma opinião sobre "As coisas que chamamos de nossas"

Hoje li no excelente blog do Luciano Coelho seu comentário sobre o meu livro. Obrigado, Luciano, pela generosidade. Abaixo o link.


 http://navalhanamaodomacaco.blogspot.com/2011/02/as-coisas-que-chamamos-de-nossas.html#comment-form


P.S.: o nome do blog dele, aliás, é muito bem sacado, por associar o dito popular do perigo da navalha na mão do macaco com o poder cortante da escrita sem censura.



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Magreza é beleza?


Dia desses vi num cartaz uma conhecida atriz que, sorridente, ostentava um shake de emagrecimento. Certo. A moça é de fato magra, mas o que chama a atenção nela não é a magreza e sim a sua radiante beleza. Esse é o ponto. A propaganda explora a atual paranoia que tornou magreza sinônimo de beleza. Ora, jamais uma eventual magreza trará como efeito colateral a beleza daquela atriz. É claro que emagrecimento (saudável) é sempre bem-vindo, haja vista que a obesidade se afigura como questão de saúde pública. Mas cá estamos falando puramente de aparência e uma pessoa não é bela apenas por ser magra. Nunca ouvi homens comentando: nossa, que mulher magra! Do mesmo modo que não consigo imaginar mulheres sentindo-se atraídas pela magreza de um homem. Talvez só mesmo as mulheres reparem na magreza umas das outras, mas fazem isso pelo sentimento de competição, fomentado pela ilusão de que magreza é mesmo sinônimo de beleza. Esteticamente, beleza é o resultado harmônico de várias características físicas. Isso é óbvio. O problema é que uma paranoia não nos deixa justamente ver o que é óbvio.
















segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Soneto a Vincent Van Gogh

Louco, neurótico, doente
Gênio, mestre, proeminente
Cores vivas, tons fascinantes
Tinta grossa, temas alucinantes.

O amarelo, vivo, iluminado
O azul, profundo, revoltado
Traços nervosos, incorretos
Delírios da mente, descobertos.

Vida ingrata, marcada pela querela
Comeste o diabo e exalaste uma aquarela
Entre pensamentos insanos, agonizantes.

Mas nem na natureza viu-se antes
Girassóis tão belos, tão vibrantes
Como os retratados em tua tela!

06/05/1997


                                                                                                             

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

LIBERDADE OU SEGURANÇA?


Liberdade move o desejo de viver; segurança, o de sobreviver. Liberdade traz alegria, mas também insegurança, que gera angústia. Segurança traz conforto, mas também restrição, que gera igualmente angústia. Assim voltamos ao início: liberdade ou segurança? Viver a liberdade com segurança me parece uma assertiva um tanto poética e superficial, já que uma coisa sempre interfere visceralmente noutra. Talvez o melhor caminho seja avaliar qual liberdade estamos dispostos a restringir em nome da segurança. Mas essa proposição também é falha porque, além de subjetiva, é inconclusiva. E por uma mera expectativa de segurança, já que não existe segurança plena, pagamos um alto preço, debitado sempre do nosso desejo instintivo de liberdade irrestrita. Ou seja: queremos a liberdade de viver, mas, em regra, acabamos optando humildemente pela segurança de sobreviver. Nesse ponto, tanto a ideologia quanto sua prima-irmã, a alienação, se prestam a minimizar o fato de que, no fundo, viver não é muito mais que apenas sobreviver, pois todo sentido que se queira dar à vida, além da sua própria sobrevivência, não passa de uma romantização que alivia a pressão da luta incessante que é sobreviver física e emocionalmente.















terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O amor...

É paciente por experiência
Porque sabe esperar
Sabe recuar
Espreita

É incondicional por inocência
Porque sabe dar
Sabe entregar
Aceita

É irracional por irreverência
Porque sabe pulsar
Sabe magoar
Rejeita 

É sarcástico por conveniência
Porque sabe castigar
Sabe humilhar
Desfeita

É lindo por essência
Porque sabe perfumar
Sabe maravilhar
Enfeita

É erótico por sobrevivência
Porque sabe jorrar
Sabe saborear
Deita

É quieto por latência
Porque sabe ausentar
Sabe aquietar
Ajeita

É corajoso por decência
Porque sabe enfrentar
Sabe lutar
Endireita

É ciumento por demência
Porque sabe fuçar
Sabe desconfiar
Suspeita
             
É submisso por aquiescência
Porque sabe calar
Sabe contra-atacar     
Aproveita
               
É único por excelência
Porque sabe improvisar
Sabe ensinar
Receita
                                                                                    
(11.04.97)