segunda-feira, 29 de agosto de 2011

TRAIÇÃO: CONTAR OU NÃO

Só confessa aquele que, não suportando o peso do própria culpa, sai em busca da absolvição redentora. Fora isso, não há dilema, pois sem culpa não há a percepção do erro como tal. Dentro do relacionamento amoroso a dinâmica não é diferente. Quem confessa uma traição está buscando o perdão do companheiro traído. O mesmo perdão que não foi possível conceder a si próprio. Assim, quando muito, uma confissão só aliviará o sentimento de culpa, mas não resolverá a questão em si. É antes um ato de covardia, porque quem traiu quer mais é transferir ou dividir a própria culpa justamente com quem foi traído. Diria mais, é sadismo travestido de arrependimento. E a redenção do perdão? Difícil nesse caso, porque o perdão verdadeiro demanda o esquecimento da ofensa e uma traição é sempre inesquecível. Agora, não se pode esquecer que trair e ser traído é sobretudo um sintoma inconsciente e neurótico do próprio relacionamento e, por vezes, seu ponto de equilíbrio.  

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O MELHOR QUE A POLÍTICA PODE OFERECER

Contardo Calligaris escreveu ontem na Folha de S. Paulo que cresce no Brasil a paixão antipolítica. Em suas palavras, "é a convicção de que o exercício da política é indissociável da corrupção". O resultado disso na sociedade seria a conclusão de que a necessidade mais premente na política é a de pessoas honestas. Vejo isso como parte do processo universal de evolução política, sempre reflexo de seu próprio povo, dividido em três estágios. O primeiro, mais arcaico, com países ainda dominados por regimes ditatoriais ou em processo de levante. Seus povos vivem entre o medo e o desejo de liberdade. O segundo, intermediário, com países que, mesmo democráticos, debatem-se com sua falta de maturidade e responsabilidade. Seus povos vivem entre a descrença e a esperança política. E o terceiro, mais evoluído, com países cujas amadurecidas democracias promovem liberdade e responsabilidade. Seus povos vivem entre a segurança e a indiferença com as coisas da política. Aliás, esse estágio último possibilita ao cidadão preocupar-se apenas com a própria vida. E isso é o melhor que a política pode oferecer.  


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

POR QUE AUTOAJUDA NÃO AJUDA

Confesso: já li autoajuda. Em minha defesa, digo que isso se deu há muitos anos. Gosto é gosto, eu sei. Mas desde então peguei aversão ao gênero. A mente humana não é passível de uma sistematização pragmática, logo qualquer comportamento padronizado por regras, que não aquelas necessárias ao convívio social, está fadado ao fracasso. Somos seres individuais e diferentes uns dos outros, ainda que postos em condições gerais semelhantes. Exemplo: filho, para sentir-se amado, tem que receber atenção, carinho e, principalmente, limites, porque só assim crescerá num ambiente seguro. A proposição não está errada, ao contrário, está certíssima. O problema é colocá-la em prática se a prática depende de inúmeras questões emocionais difusas e complexas de todos os envolvidos. Se um filho é alvo de rejeição inconsciente por parte da mãe, tudo vai por água abaixo, mesmo que a cartilha seja seguida, porque há o espaço da comunicação não verbal, imenso aliás. Ou seja, não será com palavras bem escritas que a situação se tornará melhor. Autoajuda não ajuda pela mesma razão de que nem os bons conselhos ajudam. Só conseguimos nos ajudar quando enxergamos nossas limitações por conta própria e não quando externamente apresentados a elas.    

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

PARA ONDE A MODA VAI?


Intriga-me essa androginia anoréxica da moda de hoje. No mundo fashion homens e mulheres têm corpos retos, sem curvas, e se vestem, por vezes, de modo muito similar.  Vi outro dia que as roupas masculinas de uma loja mundialmente conhecida têm os seguintes tamanhos: extra pequeno, pequeno, médio e grande, sendo que o tamanho grande em questão não se destina aos gordos e sim aos altos. A novidade para mim foi o tamanho extra pequeno. Ou seja, o baby look está agora disponível também para homens. Não discuto a questão estética porque esta decorre de gosto e tem natureza cíclica, mutável e inconstante, porém preocupa-me a angústia que esse padrão nefasto e excludente causa à sociedade, em especial, aos adolescentes, cuja intensidade também pode ser medida pelos crescentes índices de obesidade. Tornar homens e mulheres fisicamente iguais, será mesmo esse o objetivo da moda? Já ouvi dizer que essa androginia e anorexia  vêm da visão estética que os estilistas, homossexuais em sua maioria, têm do corpo humano, sobretudo o feminino. Pode até ser, mas a aparente obediência servil aos caprichos da moda pode ter um significado importante no inconsciente de todos. 





sexta-feira, 5 de agosto de 2011

PADRÃO BRASILEIRO



Sempre ouvi dizer que o maior problema do Brasil é o da falta de educação. Porém penso que a falta de educação que mais nos maltrata seja aquela básica, em seu sentido estrito, cuja ausência causa a frouxidão da conduta moral. Por isso paira sobre a nação uma nefasta relativização da ética, que vai muito além da educação acadêmica. Falta-nos  uma consciência coletiva estruturada para inibir a transgressão de regras de caráter geral, principalmente quando estas colidem com o interesse individual. E o fato de se ter ou não curso superior nada influencia nesse padrão, porque presente em todas as classes sociais, independentemente do nível de escolaridade. O fato é que essa conduta relativista cria um anestésico para a prática de  toda corrupção, inclusive a política. Engana-se quem vê corrupção apenas na vida pública. Há corrupção, e muita, na vida privada. A sonegação de impostos e o desrespeito às normas de trânsito são exemplos clássicos, graves e contundentes. Porém, por conta dessa relativização, todos têm sempre uma justificativa bem articulada, mas individualista, para suas "pequenas falhas". Infelizmente não há perspectiva desse padrão ser alterado.  Não enquanto nos lares nossas crianças seguirem aprendendo, através do mau exemplo, que suas obrigações e responsabilidades com a sociedade são meramente relativas.