terça-feira, 20 de dezembro de 2011

COMER, COMER, COMER



Escrevo num hotel onde há essa loucura gastronômica chamada de buffet. Impressiono-me com que volúpia hóspedes montam seus pratos, quase sempre ornamentais, olímpicos e homéricos.  Comem como se toda refeição fosse a última. Não dá para atribuir essa insaciabilidade à nossa memória genética e seus registros de um passado de penúrias alimentares. A intensidade é uma marca humana. Nossa consciência da morte é  sutil mas latente. Por isso a angústia que ela causa nos move a buscar tudo ao mesmo tempo. Aproveitar a vida seria a justificativa. Mas que vida mais vazia é essa que necessita ser preenchida a todo instante? Volto à morte (não há como falar da vida sem falar da morte). Se morte representa  ausência, vazio, silêncio, então vida seria presença, plenitude e barulho. Sim e não. A contradição da vida é quanto mais vivemos mais próximos da morte ficamos. Comer em excesso pode dar até uma sensação breve de preenchimento, como toda ilusão, mas acaba sendo apenas  mais um modo de abreviar a própria vida. 



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