Infelizmente nossa memória cerebral não passa de um filme fragmentado. Não dá para lembrar de todos os fatos na sequência lógica de começo, meio e fim, mas apenas de uma infinidade de curtas imagens, quase sempre frias, impessoais e sem sons, o que é triste porque muito de nós, e de quem amamos, se perde para sempre. Porém há outro mecanismo que preserva e salva nossa história. Falo da poderosa combinação entre memória emocional e sensorial. Com ela podemos vivenciar o milagre de tornar o passado presente, fazendo aflorar do fundo do nosso ser as mesmas emoções de outrora. No meu caso, as canções de ninar do Palavra Cantada me fazem sentir meus filhos pequenos outra vez. Nessa hora parece até que o tempo simplesmente não existe.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
domingo, 23 de janeiro de 2011
As aparências não enganam
Não é novidade dizer que somos dissimulados desde sempre. A ordem humana é, mais do que ser, parecer ser. Somos assim porque vivemos em sociedade e nela o jogo das aparências conta muito. Atualmente as redes sociais se prestam a deixar isso ainda mais evidente. Nelas todos tentam fazer a melhor figura possível. Errado? Óbvio que não. Afinal, todos são livres para ser ou parecer ser o que quiser. Muitas vezes é o que nos resta numa vida tão massificada e repetitiva. Mas o que me chama a atenção nisso é que, ao contrário do adágio, as aparências não enganam. Basta ter olhos. Exemplo: se tento passar determinada imagem de mim mesmo, talvez até consiga impressionar aqueles que têm o mesmo desejo. Porém meu objetivo maior não será outro senão impressionar a mim mesmo, numa tentativa de confirmação de quem desejo ser ou apenas parecer ser. Nesse caso, a tela do computador funciona como um espelho que só reflete o que desejamos ver.
domingo, 16 de janeiro de 2011
Um cão chamado Leão
A imagem do cachorro Leão guardando o singelo túmulo de sua dona, Cristina Maria Cesario Santana, morta na tragédia da enchente do Rio de Janeiro, é tão comovente quanto profunda. Nesse caso, a fidelidade canina só fez demonstrar que um cão enxerga a vida como de fato ela é. Explico: para Leão, morta ou viva, sua dona ainda está ali, pertinho, bem a sete palmos do chão. Sem qualquer ilusão ou dramatização da morte, num misto de perplexidade e revolta, ele permanece placidamente fiel à pobre Cristina. Isso porque seus sentidos ainda indicam a presença dela naquele desolado local. "Deixa que os mortos enterrem os seus mortos" é o conselho de Cristo no texto bíblico. Do ponto de vista emocional é o que se deve fazer por pura questão de sobrevivência psíquica, já que para a morte não há remédio. Mas é maravilhoso quando um ser, demonstrando a insensatez de contrariar a lógica da própria sobrevivência, deixa-se mover apenas e somente por amor.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
O QI DA BELEZA
A Veja dessa semana traz um insólito teste para medir o QI da beleza do leitor. Eu, num misto de futilidade, curiosidade e, principalmente, falta do que fazer, me submeti às não sei quantas perguntas do tal teste. Resultado óbvio: o meu QI de beleza não é o mesmo do Brad Pitt... Talvez a demasiada importância que se dá à beleza, que tanto nos fascina, exprime, mais que o desejo de ser amado e aceito, uma vontade de simplificação. Como se ela fosse capaz do milagre da felicidade eterna, um contraponto imaginário para todas nossas angústias. Beleza oferece beleza. Quem se relacionar com ela desejando mais que isso ficará frustrado. Mas voltando ao teste, além de sua superficialidade e fragilidade, ele despreza outras características humanas capazes de tornar alguém belo como amor, bondade, sabedoria, amizade, inteligência, ternura, carisma etc. A beleza física é maravilhosa mas perecível; já a beleza que não se vê, cuja passagem do tempo só a engrandece, é muito mais bela.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
O triste "encanto" da inveja
Muito já se disse sobre a inveja, essa eterna dor provocada pela felicidade alheia. Mas por que o invejoso permanece triste mesmo quando alcança seus objetivos? Ao contrário do que se possa pensar, a inveja é um mal que acomete tanto perdedores quanto vencedores na mesma intensidade, inclusive. Isso porque o real e inconsciente desejo do invejoso não é ter o que o outro tem, mas justamente ser o outro. Por essa razão não se aplaca essa dor emocional com realizações, mesmo quando se consegue o próprio objeto motivador da inveja, já que este perde seu "encanto" maior quando deixa de ser possuído pelo outro e passa para as insatisfeitas mãos do invejoso. Ou seja, nunca se inveja coisas, mas sempre e somente pessoas. Por isso uma vez invejoso, sempre invejoso.
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