domingo, 16 de janeiro de 2011

Um cão chamado Leão

A imagem do cachorro Leão guardando o singelo túmulo de sua dona, Cristina Maria Cesario Santana, morta na tragédia da enchente do Rio de Janeiro, é tão comovente quanto profunda. Nesse caso, a fidelidade canina só fez demonstrar que um cão enxerga a vida como de fato ela é. Explico: para Leão, morta ou viva, sua dona ainda está ali, pertinho, bem a sete palmos do chão. Sem qualquer ilusão ou dramatização da morte, num misto de perplexidade e revolta, ele permanece placidamente fiel à pobre Cristina. Isso porque seus sentidos ainda indicam a presença dela naquele desolado local. "Deixa que os mortos enterrem os seus mortos" é o conselho de Cristo no texto bíblico. Do ponto de vista emocional é o que se deve fazer por pura questão de sobrevivência psíquica, já que para a morte não há remédio. Mas é maravilhoso quando um ser, demonstrando a insensatez de contrariar a lógica da própria sobrevivência, deixa-se mover apenas e somente por amor.

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