quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A VIGÍLIA

O silêncio do café da manhã foi quebrado por um estrondo. Parecia que um dos vidros da casa tinha sido atingido por algo. Olhamos para baixo e vimos na calçada dois pequenos pássaros. Um deles, em pé, observava o outro que jazia, inerte. Estava esclarecido o fato: uma manobra de voo mal sucedida fora fatal. Mas por que se mantinha tão próximo? Por que não voava? Teria se ferido também? Não, ao menos não fisicamente. Percebemos então que, em vão, esperava ele uma reação de seu companheiro (ou seria companheira?). Recusava-se a seguir seu caminho. E assim permaneceu, tão silencioso quanto incrédulo. Era como se para ele o tempo tivesse parado, entrado  num estado de suspensão, numa realidade paralela. Minha mãe contou-me que aquela cena se estendeu por mais de uma hora. E só não foi mais longa porque ela, tomada pela angústia, não suportou mais ser mera expectadora. Aproximando-se, falou ao pássaro num sussurro que nada mais poderia ser ser feito, que ele deveria ir embora porque a morte, infelizmente, é sempre irremediável. O pássaro, parecendo entender, alçou seu voo solo. 


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