terça-feira, 28 de agosto de 2012

CÁLICE



Quase não acreditaram quando viram o mestre e seus seguidores entrando em sua casa para o jantar. O marido nem se importou de ficar sem lugar na mesa porque, no fundo, só pensava fazer inveja aos vizinhos. A mulher ficou na cozinha, mais preocupada com a louça cara que iriam usar. Durante a refeição não ouviam direito as palavras do líder que, sentado bem ao centro, falava de um modo muito plácido.  Mas ouviram quando ele ergueu diante dos olhos o cálice que estava à sua frente e disse: tomai, este é o meu sangue!O marido se assustou; não podia ver sangue. A mulher só pensou se aquilo mancharia o cálice. Em seguida, ele anunciou que um dos seus iria traí-lo. Todos duvidaram, alvoroçados. O casal, ainda na cozinha, tentou adivinhar. Pra mim é esse que tá no lado direito dele, todo solícito, disse o marido, os bonzinhos são os piores. A mulher preferiu apostar no discípulo mais calado, intuição feminina.Tarde da noite, foram-se todos, alimentados e agradecidos. A mulher, não se contendo, correu  examinar o cálice usado pelo mestre. Ficou aliviada quando viu que nele não havia sangue, mas apenas vinho.


(Extraído do livro "As coisas que chamo de nossas")

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