Admiro quem não sorri para fotos. Eles são a resistência contra a ditadura do sorriso. Lembro-me dos retratos de meus avós na parede da sala, sérios, solenes, graves. Hoje, porém, a ordem é mostrar os dentes, querendo ou não. Todos temos o desejo de guardar uma imagem feliz de nossos momentos, sejam eles especiais ou mesmo banais. Por isso sorrimos, por vezes sem vontade, num reflexo condicionado. Muitos de nós já sabem até sorrir espontaneamente na hora que querem, fazendo parecer natural. É a espontaneidade a serviço da obrigação. Não sou contra o sorriso da foto. No fundo tenho pena dele. Afinal, é apenas a expressão do sincero mas frustrado desejo humano de ser sempre feliz; uma humilde ilusão cuja duração não passa de um flash. Sou, sim, contra a obrigação de sorrir.
- Inspirado pelo texto "Sorria", de Contardo Calligaris, publicado na Folha de S. Paulo na última quinta-feira, dia 28/06/2012.
- Inspirado pelo texto "Sorria", de Contardo Calligaris, publicado na Folha de S. Paulo na última quinta-feira, dia 28/06/2012.