domingo, 10 de junho de 2012

A ÚLTIMA CONFISSÃO


Era Páscoa de 1988. Estava com minha mãe numa igreja cheia de almas sedentas de perdão. No confessionário, atalhei: _Sr. Padre, estou aqui apenas para atender a um pedido de minha mãe. Meus pecados são comuns, iguais aos de todo mundo, inclusive aos seus. Por isso, me desculpe, mas não irei contar nada da minha vida. Fique à vontade para me dar ou não a sua absolvição. Com todo respeito, isso não faz diferença para mim. Após alguns instantes de silêncio, o padre iniciou sua fala, pareceu-me um discurso padrão. Ao final, recomendou-me duas ave-marias e dois pai-nossos. Como na época ainda rezava, rezei. Ao terminar, minha mãe me perguntou se eu tinha falado alguma coisa diferente no confessionário. Não, por quê? Disse-me ela que quando saí de lá, o padre colocou a cabeça para fora para me olhar. Curioso, quis ver quem lhe fizera aquela insólita confissão, cuja absolvição, não sei se por dever de ofício, bondade ou medo, ele não negara.


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