Era a primeira vez que o menino via um corpo num caixão. Ao contrário do medo habitual de fantasmas, espíritos e coisas do gênero, sentiu-se absolutamente encantado com a placidez da jovem morta: o rosto alvíssimo, os lábios delicados, o nariz afilado, o cabelo escuro, preso para trás. Tudo nela era encanto, altivez e elegância. Assim, alheio a todas as lamentações dos que o cercavam, permanecia estático, absorto, hipnotizado por aquela beleza inesperada, que mais lhe parecia um quadro, uma pintura. Mais tarde, na cama, sem sono, viu-se pensando na jovem falecida. Imaginava ela abrindo a porta e vindo deitar-se ao seu lado. Quanto mais pensava, mais sentia-se retesado, até que, sem resistência, entregou-se aos devaneios tão típicos da idade, tremendo dos pés à cabeça. Curiosamente, depois daquela noite, nunca mais sentiu atração semelhante. Porém ainda hoje, passados tantos anos, é capaz de lembrar-se daquela que foi, de certa forma, sua primeira paixão arrebatadora.
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