Em Curitiba é comum se ver automóveis com adesivo da bandeira do Rio Grande do Sul. São gaúchos riograndenses que, mesmo morando aqui há anos, seguem cantando orgulhosos as grandezas da terra que deixaram para trás. Ou seja, vieram apenas de corpo, mas não de alma, o que é sempre normal em qualquer emigração ou imigração. Isso porque cultivar raízes reforça a própria identidade, fragilizada pela distância. Porém, por outro lado, esse apego torna ainda mais penoso o processo de integração, não apenas social mas principalmente mental. No fundo essa ufania gauchesca só faz mostrar o quão triste é para alguns viver numa terra sem o senso de pertencimento.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
CAÇA ÀS BRUXAS NO DICIONÁRIO
Debate-se hoje o uso de certas palavras que poderiam ter conotação racista. Denegrir, por exemplo. Pelo dicionário é tornar negro, manchar, causar infâmia. Ou seja, seu significado não tem nada a ver com a raça negra. (Aliás, não existe pessoa com pele de cor negra e nem branca). A questão é que, histórica e psicologicamente, a cor negra (preta) é associada a coisas negativas: a noite é escura, as trevas representam o desconhecido etc. Entendo que não dê para mudar a denominação da raça negra e que, ao contrário, deve-se ter orgulho dela justamente para afastar o caráter pejorativo do termo. Agora, por outro lado, não dá para ficar caçando bruxas no dicionário, desejando abolir o uso de expressões cujo significado passa longe da questão racial.
domingo, 11 de novembro de 2012
A BONDADE DA ESQUERDA
Já fui politicamente de esquerda. Hoje não sou mais tão pretensioso. Para ser de esquerda, é preciso julgar-se genuinamente bom e crer que o mundo se divide entre bons e maus. Pessoalmente não acredito mais nem em uma coisa nem em outra. (Não entrarei no mérito dos que usam essa ideologia para ganhar a vida de modo oportunista, porque o caráter é anterior à opção político-ideológica). Ser de esquerda é sobretudo uma profissão de fé. Funciona como uma religião onde, em troca da conversão e dedicação abnegadas, se recebe o conforto emocional do seguinte espelhamento hipócrita: minha ideologia é boa logo sou igualmente bom.
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
CAMINHANDO COM A MÃE
Não é novidade dizer que se gosta para sempre do que se gostou quando criança. Tal sentimento é retratado com absoluta delicadeza no desenho "Ratatouille". Tudo acontece quando o sisudo crítico culinário Anton Ego experimenta o ratatouille preparado por Rémy, o insólito ratinho cozinheiro. Embora simples, o prato é feito com tamanha perfeição que o crítico, até então impassível e implacável, acaba por se desmanchar diante da lembrança que aquela experiência gustativa traz da sua infância e do carinho da mãe. Pois bem, dia desses me dei conta porque gosto tanto de caminhar por cidades e porque sempre vejo tudo com admiração. Simples: memória afetiva. Caminhar por calçadas é para mim, de certa forma, a repetição do prazer lúdico que sentia quando fazia isso de mãos dadas com minha mãe.
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