domingo, 11 de novembro de 2012

A BONDADE DA ESQUERDA


Já fui politicamente de esquerda. Hoje não sou mais tão pretensioso. Para ser de esquerda, é preciso julgar-se genuinamente bom e crer que o mundo se divide entre bons e maus. Pessoalmente não acredito mais nem em uma coisa nem em outra. (Não entrarei no mérito dos que usam essa ideologia para ganhar a vida de modo oportunista, porque o caráter é anterior à opção político-ideológica). Ser de esquerda é sobretudo uma profissão de fé. Funciona como uma religião onde, em troca da conversão e dedicação abnegadas, se recebe o conforto emocional do seguinte espelhamento hipócrita: minha ideologia é boa logo sou igualmente bom.


4 comentários:

  1. Caro: concordo contigo que boa parte das esquerdas (especialmente a mais jovem ou a mais militante) tem um caráter messiânico e confunde com muita frequência (e de modo muito absoluto)
    a opção política ou intelectual com opção ética. Do tipo: se pensa como eu, estou do lado do bem; se não pensa como eu, está do lado do mau. Isso é deletério para qualquer discussão (intelectual ou política) mais séria. Mas ainda acredito que é possível ser de esquerda sem ser messiânico, sem cair nos dualismos absolutos, sem funcionar necessariamente uma profissão de fé ou como religião. O velho Marx ensinava que esse tipo de dicotomia (ou dogmatização) era o oposto da dialética. Acho, em suma, que é possível sim ser de esquerda (pois não acho que as ideologias acabaram) sem ser dogmático, sabendo fazer mediações. Como também acho, por outro lado, que a maioria das esquerdas hoje em dia precisa de um banho de dialética para pensar com mais matizes. Abs!

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    1. Obrigado, Ricardo, por sua leitura (que muito me apraz) e por seu comentário (que enriquece minha abordagem). Abraço.

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  2. Caro Djalma, excelente reflexão. Parabéns! identifico-me com seu pensamento quanto à sua essência. De minha parte, quanto mais vivo, mais incrédulo e cético vou ficando com este papo de esquerda e direita. O mundo não foi e não é, verdadeiramente (talvez sim, na aparência), dividido nestas duas e exclusivas vertentes. A vida oferece inúmeras variações e versatilidade. Isso serve para os governos, a sociedade e as pessoas em si mesmas consideradas. Parecem ser construções culturais do homem que, assim, revela necessitar de opções para se posicionar, inexoravelmente escolhendo uma delas, pelo menos no atacado, e a partir daí conseguir produzir, pensar, viver e, quem sabe, até ser feliz. Nem esquerda, nem direita. Nem socialismo, nem capitalismo. Nem globalização, nem humanização. Creio cada vez mais que o homem, individualmente considerado (bom e mal ao mesmo tempo), é a própria medida de todas as coisas nesta vida terrena. Abraços.

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    1. Obrigado, Mauro, por seu inteligente comentário com o qual, aliás, concordo integralmente. Abraço grande.

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