quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O ADEUS DE MAX

O trajeto de casa até a clínica nunca foi tão longo. No Fiat 147, além de mim ao volante, estavam minha mãe e Max, acomodados no assento de trás. A sentença de morte de meu pastor alemão havia sido dada pela veterinária no dia anterior. Sua falência hepática era tão evidente quanto irreversível. Lembrava de tantos momentos vividos durante os últimos doze anos. Eu era um jovem adulto, mas chorava feito menino, tão menino quando era no dia em que ele chegou  nos braços de meu pai. Na clínica tudo já estava preparado. Fiz questão de acompanhá-lo até o fim. Era o mínimo que poderia fazer por quem sempre me fora fiel e companheiro. Queria ampará-lo até que sua vida se esvaísse por completo. Lembrei-me de Karenin, a cadelinha de "A insustentável leveza do ser", sacrificada com semelhante acolhimento. E assim aconteceu. De repente seu doce olhar perdeu o brilho e o silêncio daquela sala fria se fez ensurdecedor. Passados tantos anos muito dele se perdeu em minha memória, mas tenho uma foto sua no porta-retrato da cômoda de meu quarto. Max  está deitado, seu semblante é tranquilo e confiante. Está tão feliz que parece até sorrir.



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