Há muito que não ia a uma cerimônia de colação de grau universitário. Eis que sexta-feira fui. Como se tratava do curso de direito, inevitável foi a lembrança da minha, ocorrida há vinte anos no mesmo local. Inevitável também foi a comparação. A solenidade deixou de ser solene; é agora um show, organizado, cheio de luz e cores. No púlpito, os formandos faziam as homenagens em duplas, lembrando mais a entrega de prêmios musicais do que uma escola de direito, onde a oratória deve, ou deveria, ser um dos pontos altos. Até mesmo o discurso do orador da turma foi feito em dupla. Minha esperança era que o discurso do paraninfo colocasse tudo em outra perspectiva. Mas não, embora crítico, culto e reflexivo, faltava-lhe a retórica e o carisma. Para piorar, durante sua fala, uma câmera passeou entre os graduandos que, incontidos, interagiam com a plateia através do telão, fazendo gestos engraçadinhos. O público, em resposta, soltava risos sonoros, ignorando o professor homenageado. Eis uma das facetas dessa geração: parecer descolado diante de uma câmera sem medo de parecer apenas mal educado. A exibição de fotos dos formandos quando crianças, na homenagem aos pais, remeteu-me a uma formatura de jardim de infância, onde pais são igualmente presenteados com as gracinhas de seus pimpolhos. Uma coisa me pareceu certa: as formaturas de outrora eram menos apoteóticas, mas eram mais adultas. A certa altura, o inaudito paraninfo falou que aqueles formandos representam o progresso da humanidade. Talvez. Mas foi a única hora que tive vontade de rir.
Isso é verdade. Olha os casamentos de hoje: os noivos entram dançando na Igreja! Tem coisas que precisamos manter a seriedade e o tradicionalismo pois, infelizmente, os valores estão mudando...Para pior....
ResponderExcluirAbraço e muito pertinente as observações.
Concordo com suas observações, Dudu. Obrigado pela leitura e comentário. Abraço
ResponderExcluirDjalma, lendo o seu texto não pude deixar de lembrar do termo "normose", alcunhado pelo francês Jean Yves Leloup que, em singelas palavras, quer dizer que tudo o que a maioria acredita e faz deve ser considerado o "padrão" e servir de baliza para o comportamento da sociedade. O pior é que muitos desses comportamentos são doentes, egocêntricos, viciantes e ilusórios, mas como se tornam "padrão", são seguidos cegamente. Triste mas real a constatação. Abraço,
ResponderExcluirInteressante sua observação, Deborah. Não conhecia esse termo "normose" nem seu autor. Obrigado. Bj.
ResponderExcluirDjalma, belíssima constatação! Sou graduando do curso de Direito e sinto, dia após dia, a "normose" que oculta, com efeito, o sucateamento do ensino superior, especialmente das faculdades de Direito. De maneira alguma sou contra a democratização da Academia, acredito, sim, que todos devem ter a oportunidade de ali adentrar e formar-se. No entanto, democratizar a entrada sem se preocupar com a qualidade do ensino - desde a base - e com a capacitação do professor, é atirar-se no vazio da "normose" doentia e ilusória!
ResponderExcluirObrigado, Marcelo, tanto pela leitura quanto pelo inteligente comentário. Abraço.
ResponderExcluirEu, não pude deixar de concordar plenamente e de rir, também, ao final!
ResponderExcluirObrigado pela leitura e comentário, Rose. Beijo grande.
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