Antigamente eram os filhos que desejavam vestir-se com a sobriedade e a elegância dos pais. Hoje são os pais que querem se vestir com a irreverência e a ousadia dos filhos. Não defendo a volta da cartola nem dos espartilhos. Mas está se tornando ridícula essa busca pela aparência juvenil. Já disse aqui outro dia que meus cabelos estão embranquecendo progressivamente. Então, pesquisando sobre o assunto na internet, vi que, primeiro, os homens se afligem com isso mais do nunca, e, segundo, as mulheres dizem gostar de homens grisalhos. Conclui então que o homem pinta o cabelo por gosto próprio e com o objetivo de não parecer velho. Parece óbvio, mas não é. Cabelos pintados, com seu aspecto estranho e artificial, não deixam um homem mais jovem, já que os vincos da face revelam sua idade real. Mas, em contrapartida, despistam providencialmente o foco de sua aparência. Em sua avaliação neurótica, melhor que seus cabelos chamem a atenção pela eventual cafonice do que pelo embranquecimento. Seja pela roupa ou pelo corpo, é mais indolor hoje parecer ridículo do que parecer velho.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
DEIXEM OS GRANDES ESCRITORES EM PAZ
Alguns textos e os autores a quem são indevidamente atribuídos:
Procura-se um amigo - Vinicius de Moraes;
Fechando ciclos - Fernando Pessoa;
Instantes - Jorge Luiz Borges;
Recomeçar e Boleros - Carlos Drummond de Andrade;
Lições de vida - Clarice Lispector;
Promessas matrimoniais - Mario Quintana.
domingo, 18 de setembro de 2011
IT'S NEW YORK
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
TEMPO, TEMPO, TEMPO
Outro dia disse para minha mulher: ouça, essa canção é do nosso tempo. Ela, perspicaz, emendou: como assim do nosso tempo? Percebendo aonde ela queria chegar, corrigi: essa canção é do nosso tempo de juventude. É muito comum essa noção equivocada em relação ao tempo, como se ele fosse propriedade ou prerrogativa da juventude. Talvez porque quem é jovem, em tese, tenha todo tempo pela frente. Em outras palavras, os jovens têm o futuro diante de si. Mas o futuro não é outra coisa senão uma expectativa de um tempo que ainda está por vir. Pois é, falo, falo, mas não digo o essencial (como escrevia Nelson Rodrigues). O tempo pertence a quem está vivo, independente da idade. Tenha oito ou oitenta, o seu tempo será sempre hoje. O passado não é mais um tempo, e sim memória, lembrança. Quem vive no passado ou no futuro nega a si próprio a possibilidade do presente. O problema é que às vezes o presente não é lá grande coisa. Então a fuga para outro tempo que não mais existe ou que jamais existiu é algo tentador, talvez até mesmo uma necessidade. O tempo é agora: eis o fato. Mas que coisa mais ambígua, fantástica, relativa, ilusória, fugaz, o tempo é.
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
POR QUE EU?
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
QUEM TEM MEDO DE ENVELHECER?
Eu tenho. Digo enquanto levanto uma mão imaginária. Não sou velho, tenho 43 anos, mas meus cabelos embranquecidos laboram contra meu desejo de parecer mais jovem. Mais que isso, concedem-me a aparência de anos ainda não vividos. E hoje isso é algo absolutamente indesejável. Parecer mais jovem, sempre; parecer mais velho, jamais: eis o mantra da fonte da juventude. Uma ideia antiga, mas que acabou se tornando algo parcialmente atingível com os progressos da medicina e das indústrias estética e cosmética. E por que tanto medo de envelhecer? Primeiro, por causa da morte. Tanto o espelho quanto o olhar alheio são medidores implacáveis da proximidade do próprio fim, um indigesto cartão de apresentação. E segundo, por causa da vaidade, que torna o envelhecimento uma ingrata corrida contra o tempo, cujo resultado pode ser a perda da identidade estética e emocional. Mas, nesse caso, o medo de parecer bizarro ou ridículo é muito menor que o de parecer apenas alguém simplesmente envelhecido.
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