Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Mario Quintana, Vinicius de Moraes, Gabriel García Márquez, José Saramago, dentre outros, nunca tiveram a notoriedade que desfrutam atualmente, o que é bom. Tal façanha, contudo, não se deve às suas obras propriamente, e sim à farta circulação na internet de textos e frases que lhe são falsamente atribuídos, o que é mau. Não apenas porque os escritos são falsos, mas porque nem de longe têm o brilho, o estilo e a profundidade dos autores a eles indevidamente atrelados. Nada contra citações, gosto delas até, desde que respeitada a verdadeira autoria, pois tão condenável quanto plagiar obra alheia (crime, aliás) é atribuí-la indevidamente a alguém. Seria um plágio às avessas? O que dizer então daquela carta de despedida que Gabriel García Márquez teria escrito em Paris pouco antes de morrer de câncer? Carta "homicida", na verdade, porque o escritor de "Cem Anos de Solidão" encontra-se ainda vivo. Aliás, vivo o bastante para dizer publicamente: "o que pode me matar não é o câncer, mas a vergonha de que alguém acredite que eu escrevi algo tão cafona." Justa sua declaração, sem dúvida, mas débil diante da imensa avalanche virtual que, em sentido contrário, continua a propagar como sua a famigerada missiva. Outros autores, mortos de verdade, ao menos são poupados de tamanho constrangimento. Mas da ofensa à sua memória, não.
Alguns textos e os autores a quem são indevidamente atribuídos:
Procura-se um amigo - Vinicius de Moraes;
Fechando ciclos - Fernando Pessoa;
Instantes - Jorge Luiz Borges;
Recomeçar e Boleros - Carlos Drummond de Andrade;
Lições de vida - Clarice Lispector;
Promessas matrimoniais - Mario Quintana.
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