terça-feira, 27 de março de 2012

DIALETO AFETIVO

Achava engraçado o jeito da minha mãe falar quando via seus parentes. Ela, professora por formação, deixava de lado o bom português e passava a falar um bom "caipirês". Não que seus parentes fossem caipiras; não eram. Mas esta era uma forma de todos lembrarem de um tempo, de pessoas e de coisas que não mais existiam. Assim, a conversa fluía mais solta, sincera e alegre. Não é novidade dizer que para saber quem somos é preciso antes saber quem fomos. Por isso a linguagem é um dos pilares da identidade humana, porque impregnada de códigos, tons e variantes que nos falam diretamente ao coração. Certa vez um amigo de meu irmão teve o filho adolescente morto num acidente. Apesar de ser um empresário inteligente e bem sucedido, ao ver meu irmão no velório disse emocionado: "Perdimo o Thiago, Ruy!" Não havia verbo nem conjugação que pudessem expressar dor maior.


2 comentários:

  1. É assim mesmo.Quando junto dos meus familiares no sul da Bahia,ficamos bem a vontade para coversarmos,sem medo empregar nosso caipirês.
    Poleto

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  2. Obrigado pela leitura e comentário, Poleto. Abraço forte.

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