Iluminado o primeiro homem que começou a contar o tempo. Mais que números, essa contagem nos deu sentido e materialidade existencial, pois sem ela a vida perderia, e muito, em perspectiva. Segundos, horas, dias, anos, prestam-se, basicamente, para melhor contarmos a nossa própria história. Mas é na virada de cada ano que o tempo ganha contorno e referência maiores, numa metáfora de nós mesmos, tão fatal quanto linda, celebramos a chegada do ano que nasce ao mesmo tempo em que nos despedimos do ano que morre. Ou seja, celebramos a vida apesar de estarmos cada vez mais próximos da morte.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
O lado bom da submissão
Ser submisso é o que ninguém deseja num tempo onde a liberdade de escolha é um bem supremo. Sei que piso em terreno capcioso, mas ser submisso em determinado momento ou aspecto da vida nos dá segurança. Quando criança precisamos da submissão a um adulto até termos maturidade psíquica para agirmos com autonomia. Dar precocemente liberdade de escolha aos filhos é um desserviço. Na verdade pais que fazem isso tentam tirar de si o fardo da responsabilidade à guisa de serem "legais". Veja-se o exemplo dos cães: cão submisso ao dono tende a ser confiante e tranquilo; cão dominante, desconfiado e agressivo. Pois bem, e no relacionamento amoroso adulto cabe a submissão? Talvez sim, desde que estabelecida naturalmente. Se João tem mais liderança que Maria, esta poderá ser submissa a ele nesse ponto. E se Maria é melhor com as finanças que João, este poderá ser submisso a ela nesse aspecto. Muitos conflitos entre casais surgem da desarmonia entre as respectivas submissões e dominâncias. Se ambos tiverem a sabedoria para perceber e conviver com isso, poderão poupar e potencializar energias para enfrentar os desafios do dia a dia. Mas repita-se: para ser legítima uma dominância nunca poderá ser imposta.
domingo, 26 de dezembro de 2010
Confissões de um fã
Primeiro ouvi sua voz no rádio; depois vi sua imagem na TV. Não sabia ainda que voz e imagem pertenciam à mesma pessoa. Corria o ano de 1977 e, paradoxalmente, conheci-o justamente após sua morte. Assim, enquanto muitos ainda lamentavam seu breve e inesperado adeus eu, menino de 10 anos, celebrava seu "nascimento". Conhecer Elvis Presley foi um grande acontecimento em minha vida. Na época, acesso a filmes só pela TV, fotos só pelas revistas e músicas pelo rádio, isso porque LPs eram caros, principalmente para um menino sem mesada... Mas como foi delicioso aquele tempo de descobertas "elvísticas". Ainda hoje não me interesso muito pelas letras das canções dele porque sua voz e sua performance me soam algo que supera o entendimento de qualquer mensagem existencial. Para mim o artista Elvis Presley é uma força da natureza, como a chuva e o vento, onde a explicação racional é relegada ao segundo plano, tamanho o impacto sensorial e emocional que me proporciona.
Os livros de minha vida
Posso dizer que me alfabetizei apenas aos dezoito anos de idade, apesar de ter aprendido a ler e escrever muito antes. Isso porque foi só na maioridade que conheci o mundo maravilhoso dos LIVROS. Desde então nunca mais abandonei a companhia silenciosa, paciente e calma de um livro: romances (históricos ou ficcionais), crônicas, infantis, ensaios, contos, auto-ajuda (confesso, mas não pequei mais!). Alguns amei outros nem tanto, mas raros odiei. Com o tempo passei a conhecer o livro pela capa. Não ousaria elaborar uma lista dos melhores, talvez apenas dos inesquecíveis, mas nominá-los não teria sentido porque cada livro toca (ou não) seu leitor de modo e intensidades diversas. Como todo leitor, tenho manias: gosto de livro novo, com cheiro, sabor e frescor, como um amante possessivo e exigente. É claro que os meus não estão mais novos; envelheceram junto comigo.Temos então uma relação amistosa de velhos amigos. Gosto de olhá-los, manuseá-los, folheá-los e relê-los em trechos pequenos. Poucas visões me encantam tanto quanto a de uma estante repleta de livros. Diga-me com quem andas que te direi quem tu és, diz o dito, mas com livros a frase poderia ser outra: diga-me o que lês, que te direi quem imaginas ou sonhas ser. É só na imaginação e nos sonhos de seu leitor que um livro vive plenamente.
sábado, 25 de dezembro de 2010
Um emaranhado chamado destino
Quando penso em destino não vejo uma coisa só, e sim um emaranhado de variantes e possibilidades ligadas umas às outras. Um olhar mais atento nos indica que cada coisa decorre de outra, e assim por diante. Decisões importantes são, na verdade, sustentadas e decorrentes de outras sem importância aparente. Cada escolha banal tem seu desdobramento respectivo. Assim, o destino não é um caminho pronto, pavimentado e sinalizado previamente, mas uma humilde e precária picada que criamos com a foice das nossas escolhas de cada dia. Detalhe importante: estamos sós nas escolhas, mas não no caminho. Por isso as escolhas alheias influenciam diretamente nosso rumo.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
O SENTIDO DO NATAL
Quando lembro dos natais de minha infância, a primeira imagem que me vem é da moça do comercial que, com uma criança no colo, cantava: "E no mundo inteiro a mesma canção, de amor e paz...". Fui uma criança dos anos 1970, então sempre houve uma televisão por perto. Curiosamente, Papai Noel e o Menino Jesus não eram figuras muito mencionadas, mas como eram bons aqueles natais. Sorrisos, abraços, comidas, refrigerantes e, naturalmente, presentes, não na profusão de hoje, mas o suficiente para eu achar que a vida era mesmo bela. Para mim, o natal não é o dia 25, mas a noite do dia 24. Sempre foi assim. Uma noite mágica, quando todos os homens de boa vontade dão uma trégua e tentam viver a vida ideal, cheia de fraternidade, alegria e amor. "O presente mais bonito é viver, é querer bem!"
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
VAMOS FALAR DE RELACIONAMENTOS
É bom falar de relacionamentos, mas não com quem a gente ama. Explico. Além de desgastante, discutir relação tem sempre o mesmo resultado: ressentimento e insegurança. Isso porque externar desejos e expectativas frustradas gera angústia na medida em que demonstramos sobretudo nossa insatisfação. O outro acaba na defensiva, magoado e inseguro, por mais que externamente prometa esforçar-se para mudar. Esqueça esse falatório: ninguém muda ninguém. A única mudança possível (e desejável) é perceber que amamos o outro justamente por ele ser como é. No relacionamento ideal tudo ficaria no plano da intuição e da percepção e nada precisaria ser verbalizado, talvez nem mesmo o amor.
Vida longa às mulheres!
Mulheres são lindas, sábias, enigmáticas, intensas, sensíveis, solidárias, fortes, amigas, gentis, prestativas, engraçadas, inteligentes, elegantes, sensuais, amáveis, dignas, perceptivas, charmosas. Todas têm algo de belo, próprio, atemporal, intocável, que as torna sempre únicas. Por isso cinco sentidos nunca serão suficientes para captar toda a sua magia. Flores que são, as mulheres, mesmo delicadas, são fortes e independentes, mas murcham por dentro sem o olhar de quem as ame. Feliz daquele que tem uma flor perto de si.
sei que adiante um dia vou morrer
De susto, de bala ou vício,
de susto, de bala ou vício
Num precipício de luzes entre saudades,
soluços, eu vou morrer de bruços
Nos braços, nos olhos,
nos braços de uma mulher,
nos braços de uma mulher...
(Soy loco por ti, América - Gilberto Gil e Capinan)
Abaixo link para o vídeo "Women in art"
sábado, 11 de dezembro de 2010
Objeto sexual - ser ou não ser?
Sempre ouvi dizer que mulheres odeiam sentir-se meros objetos sexuais de seus homens. Será? Ser um meio através do qual o outro tenha um orgasmo não me parece algo ruim. Ao contrário, parece um elogio. É claro que nada é tão simples na vida e no sexo, menos ainda. Mas o sexo sempre foi moeda de poder na relação, tanto para quem procura e o conquista quanto para quem é procurado e o nega. É evidente que há também gozo quando se nega o sexo e quando se o concede a contragosto. Algo me diz que quando uma mulher se sente usada sexualmente (não falo de estupro, que é bem diferente), ela realmente não está contrariada de verdade. Talvez a conquista do direito ao orgasmo tenha deixado a mulher confusa a tal ponto de sentir-se revoltada quando percebe que habita dentro de si, intacto, o seu básico instinto de fêmea que é satisfazer o desejo carnal de seu macho.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
A moral duvidosa da parábola do jovem rico
Todos conhecem a história: o jovem rico pergunta a Cristo o que deveria fazer para segui-lo. A resposta foi que, para ser perfeito, deveria ele dar toda sua riqueza aos pobres. O rapaz, temendo o futuro, não o seguiu. Moral da história: não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo porque a riqueza corrompe o espírito. Mas se a pobreza é condição para a perfeição do espírito, por que os pobres precisariam da riqueza daquele jovem? Eles já não estariam na condição adequada para a perfeição? Eu também me sentiria inseguro diante da mesma proposta. Na verdade, ninguém quer a pobreza porque ela causa, acima de tudo, insegurança à nossa sobrevivência. Ou seja, a moral da parábola é bonita, mas duvidosa e incoerente, razão pela qual ninguém a segue de fato. Só os loucos que vagueiam pelas ruas.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Feliz ou infeliz em qualquer lugar do mundo
A humanidade se repete, sempre. Encontram-se os variados tipos humanos em qualquer lugar do mundo, os alegres, os tristes, os resignados, os revoltados, os vítimas-de-tudo, os altruístas, os egoístas, etc. Isso se repete tanto num clube de ricos de Nova York quanto num ermo vilarejo africano. A humanidade também se adapta, sempre. Julgar alguém mais feliz ou infeliz é um erro. Primeiro, porque não conhecemos a fundo nem nós mesmos, menos ainda o outro. Segundo, porque somos absolutamente adaptáveis ao meio e às circunstâncias que nos cercam. Por isso a humanidade é tão forte. Talvez seja mais confortante e menos angustiante pensar que nossa felicidade ou infelicidade decorre de agentes externos quando, na verdade, ela depende basicamente de como somos por dentro.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Esvaziamento mental?
Um traço humano é a busca constante pelo que não se tem. Nossa atividade mental, por exemplo, é indômita e feroz. Então buscamos a serenidade de nossos pensamentos. Falar em equilíbrio seria fácil e simples, mas a vida real não é fácil nem simples. Foi através dessa confusa e agitada atividade cerebral que a humanidade não parou de evoluir. Uma mente quieta e acomodada, ao contrário, produz nada ou muito pouco. É verdade também que uma mente ativa e intensa tem seu ônus, porém temos que estar à altura de nossa história, onde tantos dedicaram suas vidas e seus sonhos a conquistas importantíssimas que hoje nos parecem por vezes banais.
Esvaziamento mental? Só como prática de relaxamento e por breves instantes. Mais que isso é ilusão, alienação ou mesmo enganação. Nossa mente, eternamente preenchida por pensamentos ambíguos e inconstantes, obedece ao instinto humano mais natural e básico, que é pensar.
domingo, 5 de dezembro de 2010
Opinião sobre "As coisas que chamamos de nossas"
Amigo Djalma.
Terminei a leitura de seu novo livro.
Admirei muito a estrutura dos mini-contos, completos em cinco ou seis parágrafos. As histórias introduzem o leitor no contexto, com frases densas, deixando a construção por conta da imaginação. Incrível. Você deixou um toque de genialidade. Talvez por preferir ficção a crônicas, gostei muito mais deste que do anterior.
Parabéns e obrigado por brindar o mundo literário com essa excelente obra.
Abraço
Jocelino
Jocelino e eu
Jocelino Freitas é escritor e sua produção literária é
intensa e criativa (http://www.jocelino.net/)
Terminei a leitura de seu novo livro.
Admirei muito a estrutura dos mini-contos, completos em cinco ou seis parágrafos. As histórias introduzem o leitor no contexto, com frases densas, deixando a construção por conta da imaginação. Incrível. Você deixou um toque de genialidade. Talvez por preferir ficção a crônicas, gostei muito mais deste que do anterior.
Parabéns e obrigado por brindar o mundo literário com essa excelente obra.
Abraço
Jocelino
Jocelino e eu
Jocelino Freitas é escritor e sua produção literária é
intensa e criativa (http://www.jocelino.net/)
sábado, 4 de dezembro de 2010
Lançamento de "AS COISAS QUE CHAMAMOS DE NOSSAS"
Ontem aconteceu o lançamento do meu livro de contos "As coisas que chamamos de nossas". O evento, realizado na Livraria Arte e Letra, em Curitiba, foi marcado pela presença de vários amigos queridos, que me deixaram muito feliz não só pela presença, mas por me manterem "ocupado" assinando dedicatórias durante três horas e meia!
(na foto abaixo o amigo Aramis e eu)
(na foto abaixo o amigo Aramis e eu)
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
O homem e suas cidades
Uma coisa bonita da humanidade é a sua relação com as cidades. Nelas se nasce, se cresce, se vive, se morre e se é enterrado. Pessoas passam, muitas, mas as cidades sobrevivem porque sempre uma geração entrega sua tutela nas mãos da seguinte. Desse modo a história dos que já pereceram fica viva, fincada nas pedras de suas calçadas. Vidas distintas ou mesmos parecidas dentro um só cenário, quantas? As cidades, vivas que são, mudam, crescem, incham, ficam mais feias ou mais bonitas (dependendo da idade de quem a contempla), mas a sua alma, a sua essência, está sempre lá, intacta. Sou um admirador profundo das cidades; elas representam tudo o que somos capazes de realizar, para o bem e para o mal, sem dissimulação.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
O shopping e a cidade
Não tenho dúvida que caminhar nas ruas da cidade faz parte do nosso imaginário de vida feliz. Mas por qual razão preferimos nos meter em shoppings, todos iguais e quase sem luz natural? Segurança, comodidade, estacionamento, facilidade etc. Mas insisto que, apesar de todos esses prós, shoppings não fazem parte do nosso ideal de vida feliz. Tanto é verdade que as peças publicitárias, especialistas em desejos de consumo, nunca são rodadas dentro de shoppings. O cenário é sempre a cidade, com suas ruas, casas, pessoas nas calçadas, caminhando, conversando, olhando as vitrines. Tudo sob a luz de um sol brilhante. Pensando bem apenas os comerciais dos shoppings são filmados dentro deles mesmos e olhe lá. Me ocorre agora um slogan possível mas não provável: venha para o Shopping Tal, aqui você se sente como na cidade...
Homens e mulheres - a crise dos papéis
No passado os papéis eram definidos universalmente: homens eram os provedores (do dinheiro e da segurança) e mulheres, as cuidadoras (do lar e dos filhos). Isso não significava que na intimidade realmente fosse o homem que mandasse na casa porque, desde sempre, há dominadores e dominados de ambos os sexos. Assim, uma vez atendidos os papéis sociais, o casal sentia-se adequado e não sofria de infelicidade social (só a íntima, comum a todos casamentos). Hoje, com a mulher no mercado de trabalho, os papéis do homem e da mulher deixaram de ser universais, o que trouxe muita angústia e desacerto porque o olhar social (soma das opiniões individuais expressadas coletivamente) não mudou na mesma velocidade. Há portanto um descompasso entre a realidade e a visão que todos têm de como deve ser um homem e uma mulher. É evidente que há casais onde a mulher é a provedora e o homem o cuidador, mas eles ainda enfrentam o preconceito. Se for só o alheio, eles poderão vencer a batalha, mas se for o próprio, será um relacionamento de morte anunciada.
domingo, 28 de novembro de 2010
Aborto: contra ou a favor?
Dilemas como o do aborto fazem parte da existência humana porque temos uma consciência reflexiva sobre quem somos e o que fazemos. Um leão mata porque tem fome e, mesmo assim, dorme o sono dos justos. Nós, ao contrário, sempre tentamos conjugar instinto com justiça. Abortar é, sim, uma violência física e moral contra a vida, porém implicações e complicações de cada realidade dificultam nosso julgamento. Uma coisa é certa: a proibição legal não é um empecilho, tanto que no Brasil aborta-se (e muito) clandestina e precariamente. Tendo a ser a favor do aborto livre, seja porque o feto não tem vida autônoma sem a mãe, seja porque ninguém aborta por mero capricho de vontade.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Como é difícil mudar de faixa!
Se você está dirigindo um automóvel em São Paulo, quer sair da faixa da direita e ir para a da esquerda, basta ligar a seta e fazer a manobra para o eventual carro, que está vindo pela direita, segurar sua velocidade por um breve instante (não mais que isso, é verdade) e pronto!, lá está você na outra faixa seguindo seu destino. Pois bem, em Curitiba a coisa não funciona assim. Na mesma situação, o mesmo hipotético motorista de trás não diminuirá um Km sequer. Isso quando ele não pisar no acelerador. Por quê? O que ele quer!? Um requerimento em três vias? Um pedido de mãos postas pelo amor de Deus? Ora, ora... Não, você não quer "cortar" a frente dele, quer apenas desviar do carro mais lento à frente para que o trânsito possa atingir sua finalidade ideal, que é fluir. O mais revoltante é que, muitas vezes, esses "reis-da-sua-faixa" dobram uma esquina sem utilizar a bendita seta...
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Nem tudo muda para pior
Estávamos num restaurante outro dia e eu contava para meus filhos que não há tanto tempo comensais dividiam o mesmo espaço que fumantes. Contei-lhes que você poderia estar começando a degustar seu prato e o sujeito da mesa ao lado tirava do bolso cigarro e isqueiro e começava a dar vigorosas baforadas, deixando o ambiente impregnado de fumaça e nicotina. Anos mais tarde (muitos, diga-se) foram criados pequenos espaços para não fumantes, geralmente no fundo, quase escondidos. Até que, finalmente, percebeu-se a inversão de valores que há anos era imposta aos que apenas queriam comer e respirar livremente nos restaurantes e impôs-se através de lei o que o bom senso e a boa educação já indicavam há muito tempo: não se deve fumar em ambientes fechados ou mesmo perto de não fumantes.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Dá um trocadinho aí?
Uma coisa que me irrita é essa mendicância generalizada. É um tal de me dá um trocadinho aí! Em Buenos Aires, onde a crise está pegando, não vi pedintes nem flanelinhas. Lá, ao que parece, persiste o culto (meio fora de moda) à dignidade. Bem sabem eles que pedir é algo profundamente indigno, por isso não pedem. Também não pedem porque não ganham nada de ninguém. Eles não gostam de quem não trabalha e ponto final. Aqui a dinâmica é diferente: pedir é uma forma alternativa de sustento. Então damos os trocadinhos solicitados. Primeiro, para nos livrar da presença inconveniente do pedinte. Segundo, por medo. E terceiro, por uma inconfessável e tola compensação de parecermos "bons". Afinal, nós temos "sorte" de termos o que temos, enquanto essas "pobres" pessoas não têm outra opção de vida. Sei...
A relativização da honestidade
Todos se dizem honestos. Afinal, é uma questão de princípios.
Mas notem que nas mais variadas situações a razão (quase sempre uma razão muito peculiar e própria) entra em cena para justificar atos que, a princípio, não seriam tão honestos assim. É a relativização da honestidade. Quando justificamos demais um ato é porque sabemos que não fomos verdadeiramente honestos. José Saramago define bem esse dilema quando diz que a ética tem de estar acima da razão.
Eu prefiro as mulheres!
Não, não se trata de uma declaração de "opção" sexual, mas de uma opção social. Digo isso porque, em regra, acho a companhia feminina mais interessante. Há muito percebi que homens passam a agir de forma estereotipada quando estão em grupo, falando sobre as mesmas coisas, através de uma linguagem corporal quase única. Em outras palavras: agem como bando. E num bando não existe espaço para exposições de intimidade ou fraqueza. Mulheres não agem assim, mesmo em grupo não perdem suas individualidades. Elas não têm medo de parecerem como, de fato, são.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
"Apaixonado" por Norah Jones
Me pego ouvindo pela "enésima" vez o CD "The Fall", da Norah Jones. Até meu filho diz que estou fanático depois que assisti duas vezes ao show dela. O fato é que após de alguns breves devaneios delirantes conclui que o melhor que um artista pode nos dar é a sua arte. Conhecê-los pessoalmente pode até ser legal, mas o que os tornam especiais é justamente o resultado de seu ofício (o trabalho bem feito é a perfeição humana possível). O resto é ilusão e idealização. Por isso sigo curtindo essa fugaz paixão pela voz rouca e sensual da Norah, e sem culpa.
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